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Microplásticos podem estar contribuindo para o aumento da resistência bacteriana a antibióticos

Quando a penicilina foi descoberta em 1928 pelo médico e bacteriologista britânico Alexander Fleming, foi dado início a uma revolução na medicina. Infecções que antes eram sentenças de morte passaram a ser tratadas facilmente com a penicilina. Milhares (talvez milhões) de vidas foram salvas nesses quase 100 anos da descoberta dos antibióticos e da sua ação contra bactérias.

E desde então uma corrida invisível vem sendo travada entre bactérias e a ciência atrás de novas drogas. Se por um lado as bactérias tornam-se resistentes aos diferentes tipos de medicamentos, novos e mais potentes antibióticos são usados para uma gama maior de microrganismos.

Estima-se que existam milhões de espécies de bactérias no mundo, nem todas são prejudiciais, algumas são benéficas, mas um número sem fim oferece riscos aos seres humanos. Por outro lado, existem centenas de antibióticos no mundo, divididos em mais de 15 classes. A classificação é baseada na estrutura química e no modo como agem contra as bactérias. 

Nas últimas décadas, a comunidade médica e científica viu o surgimento de várias cepas de superbactérias, organismos resistentes aos mais variados tipos de antibióticos ou a todos conhecidos. O grande dilema é que as bactérias conseguem adquirir resistência a diferentes fármacos e passar essa resistência adiante.

As consequências da resistência antimicrobiana podem trazer o prolongamento de doenças, aumento da taxa de mortalidade e de internações hospitalares, e ineficiência de terapias preventivas. A Organização Mundial da Saúde estima que infecções resistentes a antibióticos estejam associadas a mais de 4 milhões de mortes por ano. 

Embora a resistência das bactérias aos antibióticos seja geralmente atribuída ao uso inadequado de medicamentos, um novo estuda aponta que fatores ambientais podem contribuir para isso. Um estudo publicado em março de 2025 na revista Applied Environmental and Microbiology, demostra que os microplásticos podem exercer um papel crucial no aumento da resistência microbiana.

Em testes realizados em laboratório com a bactéria E. coli (uma das mais comuns nas infecções humanas), constatou-se que as bactérias podem usar os microplásticos existentes no organismo e no meio ambiente para a formação de biofilmes capazes de aumentar a resistência aos antibióticos tradicionais.

Os biofilmes são estruturas tridimensionais criadas por bactérias a partir de seus próprios resíduos. Muito semelhante a uma casa blindada e isolada, a estrutura permite que as bactérias vivam, e se multipliquem com enorme rapidez, de forma imune aos antibióticos. Uma das hipóteses é que os microplásticos absorvam antibióticos antes que eles cheguem às bactérias, reduzindo sua eficácia. No momento de formação dos biofilmes, as bactérias se multiplicam e adquirem resistência aos medicamentos presentes nos microplásticos.

Historicamente a resistência microbiana aos antibióticos sempre foi tratada sob o argumento do uso indiscriminado de medicamentos e descarte incorreto, mas essa pesquisa joga uma nova luz sobre fatores ambientais que podem contribuir muito para a eficácia dos antibióticos frente às bactérias.

Referências consultadas

Microplásticos fortalecem bactérias resistentes a antibióticos, diz estudo | CNN Brasil

Microplásticos podem aumentar resistência de bactérias a antibióticos, alerta estudo | Sociedade | Um só Planeta

Microplastics as hubs enriching antibiotic-resistant bacteria and pathogens in municipal activated sludge – ScienceDirect