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Quais insetos podem consumir e digerir plásticos?

Acabar com os resíduos plásticos é um dos maiores desafios ambientais da humanidade. O material derivado do petróleo possui uma enorme gama de utilidades, talvez seja o material mais utilizado pela humanidade, pois responde pela maior parte do lixo produzido, cerca de 20% dos resíduos gerados anualmente são plásticos e derivados.

Apesar de ser um material reciclável na maior parte das suas variações, apenas um percentual muito pequeno é reciclado ou reinserido nas etapas produtivas, menos de 9% volta ao processo produtivo na reciclagem e anualmente 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos são geradas, sendo que cerca de 20 milhões de toneladas alcançam os ambientes marinhos.

Em condições naturais, o plástico é um material praticamente inerte, levando centenas de anos para se desintegrar no meio ambiente, mesmo assim o problema segue, pois o lixo plástico não se decompõe, apenas é fragmentado em pequenos pedaços até se transformar em microplásticos, que possuem uma série de impactos ao meio ambiente e à saúde humana.

Tentando contornar o problema, cerca de 175 países estão negociando um acordo internacional para acabar com a poluição plástica. O acordo deve ser assinado até o fim de 2024 e tem como objetivo promover a produção e o consumo sustentáveis de plásticos, desde o design do produto até a gestão ambientalmente correta de resíduos.

Se por um lado buscamos alternativas para reduzir o consumo de plásticos e aumentar o seu índice de reciclagem, por outro lado temos um passivo ambiental enorme, de décadas de negligência com o meio ambiente e descartes incorretos de plásticos e outros resíduos. 

O que fazer com esse material que já está no meio ambiente? A natureza pode, novamente, nos apontar uma solução para esse dilema ambiental. Alguns insetos e bactérias já foram identificados com a capacidade de degradar e consumir alguns tipos de plástico, na verdade já foram identificadas cerca de 30.000 enzimas capazes de digerir 10 tipos de plásticos.

Recentemente, pesquisadores se debruçaram sob o estudo da larva da mariposa Galleria mellonella, também conhecida como traça do favo de mel ou traça da cera, pois se alimenta da cera produzida por abelhas, para os apicultores essa espécie é uma praga, pois podem comprometer colmeias, mas para biólogos e outros cientistas pode ser a chave para descobrir como digerir o plástico.

Isso é capaz por conta de duas enzimas identificadas no trato digestivo do animal, chamadas Ceres e Demeter (em homenagem às deusas romanas e gregas da agricultura, respectivamente), essas duas enzimas são capazes de oxidar o polietileno e digerir o plástico, sendo que as larvas conseguem obter nutrientes com essa degradação do plástico. Um processo que leva poucas horas para as larvas leva centenas de anos em condições naturais.

Mas a solução não é simplesmente liberar milhares ou milhões dessas larvas em ambientes contaminados por plásticos, pois elas podem acabar com colmeias e causar um grande desequilíbrio ecológico. A natureza mais uma vez nos mostrando que o sucesso de tudo é o equilíbrio e que a solução deve ser em isolar essas enzimas e testá-las em escala para entender qual o seu potencial de degradação do plástico em condições naturais.

Contudo, não é apenas a larva dessa mariposa que é capaz de consumir plásticos, cientistas já identificaram fungos e bactérias que possuem a capacidade de  digerir plásticos, mas é um evento muito raro em animais complexos. Em 2022, foi descoberto que outro invertebrado também gosta de plástico, o verme Zophobas morio, que pode crescer com uma dieta de poliestireno.

Uma bactéria que gera interesse e pesquisas é a Ideonella sakaiensis, que possui uma enzima que é capaz de digerir o plástico PET, muito presente em frascos de bebidas, tecidos e encanamentos.

A complexidade de degradação do plástico está ligada à sua longa cadeia polimérica, que torna o material muito resistente e para ser quebrado o segredo é a oxidação. A natureza sempre encontra uma solução para buscar equilíbrio às agressões que sofre. Mais pesquisas são necessárias para identificar novas enzimas que são produzidas por animais, testar a sua eficácia em um ambiente natural e a possibilidade de atuação em grande escala.

Entretanto a solução mais fácil, barata e eficaz é reduzir o consumo de plástico, incentivar a reciclagem dos resíduos e investir em pesquisas para reincorporação dos materiais na cadeia produtiva.

Referências:

Os insetos que conseguem comer e digerir plásticos | Meio Ambiente | G1 (globo.com)

Os insetos que conseguem comer e digerir plásticos – BBC News Brasil

Tratado global contra poluição plástica pode ficar pronto até 2024 | ONU News

Geração de lixo no mundo pode chegar a 3,8 bi de toneladas em 2050 | Agência Brasil (ebc.com.br)