Nos últimos anos pudemos acompanhar o crescimento da consciência ambiental de consumidores, empresas e governos com o uso dos plásticos descartáveis, aqueles de uso único e que respondem por 40% de toda a produção global de plásticos.
Recentemente, países, blocos econômicos e prefeituras vêm aderindo a regulamentações que limitam o uso de plásticos descartáveis e em alguns casos estabelecem limites para a sua produção, como é o caso da União Europeia, que prevê acabar com o uso de plásticos de uso único a partir de 1º de janeiro de 2030.
Embora fruto de enormes esforços, tais práticas ainda não são suficientes para frear a produção e descarte incorreto de plásticos, pelo contrário, os números só pioram. Nos próximos dez anos, o volume de lixo que chega aos cursos d’água e, consequentemente, aos oceanos, poderá chegar aos 22 milhões ou até mesmo 58 milhões de toneladas ao ano. Todo esse volume de resíduos plásticos alertaram a comunidade internacional que negocia um tratado de combate à poluição plástica, que deve ocorrer até o fim de 2024 e envolver cerca de 175 países.
Se por um lado os plásticos ainda são um grande problema ambiental, outros tipos de resíduos chamam a atenção pelo seu enorme volume, impacto nos ecossistemas e pouco debate sobre os seus números e relevância.
Dados do Panorama de Resíduos Sólidos Urbanos de 2023, demostram que cada brasileiro gere em média 1,04 kg de resíduos por dia e a população brasileira gera aproximadamente 77,1 milhões de resíduos sólidos por ano. Cerca de 380 kg de resíduos por ano para cada habitante do Brasil.
Quando olhamos para esses números impactantes, logo lembraremos dos resíduos recicláveis como plástico, papel, vidro, metal e dos seus programas de logística reversa. Mesmo assim as taxas de reciclagem no Brasil são baixíssimas, apenas 3% de tudo que é gerado é de fato reciclado, entretanto, pouco se fala sobre os resíduos orgânicos.
Os resíduos orgânicos podem ter diversas origens, como doméstica ou urbana (restos de alimentos e podas), agrícola ou industrial (resíduos de agroindústria alimentícia, indústria madeireira, frigoríficos), de saneamento básico (lodos de estações de tratamento de esgotos), entre outras. São materiais que se degradam naturalmente em condições naturais, mas devido às atividades humanas e aos grandes volumes gerados, em sua maioria são encaminhados para aterros sanitários ou dispostos em locais inadequados como lixões.
O plano nacional de resíduos sólidos estima que 50% de tudo que é gerado nas cidades é composto por resíduos orgânicos, é a maior fatia na geração de resíduos e a que menos recebe atenção e tratamento. Se considerarmos os resíduos orgânicos de atividades industriais, agrícolas há uma geração estimada de 800 milhões de toneladas de resíduos orgânicos por ano. Dez vezes mais que o total de resíduos urbanos.
Quando esses resíduos são separados na fonte, não são misturados com rejeitos ou recicláveis, a reciclagem dos resíduos orgânicos beira os 100%, pois podem se decompor e se transformar em adubo ou fertilizante orgânico que pode ser usado em várias escalas e culturas agrícolas.
Além da compostagem a biodigestão é uma alternativa para o tratamento dos resíduos orgânicos. A biodigestão é um processo de decomposição da matéria orgânica através da ausência de oxigênio. As vantagens da biodigestão são: o reaproveitamento do resíduo orgânico, a produção de fertilizantes e biogás.
Mesmo assim, com inúmeras vantagens, menos de 2% de todos os resíduos orgânicos são destinados para a compostagem. Todo o volume restante, que é aterrado ou despejado a céu aberto poderia suprir cerca de 30% da demanda brasileira de adubação nos sistemas agrícolas.
O problema de gestão de resíduos urbanos e resíduos orgânicos no Brasil passa por algumas características, como o baixo investimento e problemas de coleta. O investimento mensal per capita no Brasil é de R$ 11,96 na coleta e tratamento de resíduos urbanos, valores insuficientes para a coleta, oferta de coleta seletiva, tratamento adequado e destinação final apenas dos rejeitos. Além disso a coleta seletiva está disponível apenas para 14,7% dos municípios brasileiros, nos demais a coleta é única e favorece a mistura de resíduos e o baixo aproveitamento dos materiais na reciclagem e compostagem.
A melhora dos índices de compostagem de resíduos orgânicos passa pelo aumento do investimento público em sistemas de coleta seletiva, destinação correta de resíduos orgânicos para a compostagem pelos municípios e segregação correta dos resíduos na origem.
Referência:
Entenda os desafios para o desenvolvimento da compostagem no Brasil (verde.ag)