A preocupação com o acesso à água e disponibilidade hídrica não é um tema recente, há registros de aquedutos (dutos para levar a água para locais distantes) há quase 2.000 anos e alguns deles com mais de centenas de quilômetros de distância, datando da época do Império Romano. A sua importância era tamanha que era peça fundamental para expansão de impérios, manutenção de populações e viabilização de agricultura e criação de animais.
Atualmente os monumentais aquedutos foram transformados em quilômetros de redes de distribuição, reservatórios de água, estações de bombeamento e tratamento de água para garantir o acesso universal à água. Mas nem sempre a água possui disponibilidade na torneira de casa, seja pela falta de uma fonte de água próxima ou pela grande demanda necessária como irrigação de plantações, conter incêndios, recarregar o nível de lençóis freáticos ou grandes barragens hidrelétricas.
Vários locais do globo não possuem disponibilidade hídrica abundante e mesmos assim são lares de milhares de pessoas, como localidades nos Estados Unidos, México, Emirados Árabes, Rússia, África do Sul e até mesmo Brasil. E não por acaso esses locais precisam adotar medidas para abastecimento de água como usinas de dessalinização de água ou poços subterrâneos. Mas ambas as alternativas são caras e os níveis de água subterrâneos baixam ano a ano.
Pensando em alternativas para a escassez hídrica nesses locais é que cientistas levantaram a possibilidade de fabricar chuva artificialmente. Entretanto, a técnica depende de pré-requisitos mínimos como a presença de nuvens de chuva.
A técnica de “semeadura de nuvens” (ou “cloud seeding”, em inglês) envolve o uso de produtos químicos, como iodeto de prata e gelo seco (dióxido de carbono sólido), para estimular a formação de chuvas. Através de aeronaves e drones, esses produtos são lançados nas nuvens com o objetivo de aumentar a oferta de água em áreas secas. O processo visa aumentar o volume de chuva que cairia naturalmente.
O processo baseia-se na compreensão dos estados da água. Gotas de chuva não se formam espontaneamente; o vapor na atmosfera precisa de partículas (núcleos de condensação) para se condensar. O iodeto de prata, por exemplo, possui geometria semelhante à da água da chuva e atua como fragmentos aos quais a umidade pode se agarrar, resultando na coalescência das nuvens e, consequentemente, na precipitação de chuva.
Então não é correto afirmar que é possível criar chuva artificialmente, mas que há como estimular que a água passe do estado gasoso para o líquido, na forma de chuva e se precipite sobre o local em que estão as nuvens. Além de combater a seca de forma generalizada, a técnica pode ser uma alternativa para combater incêndios florestais, recuperar áreas degradadas ou queimadas e até mesmo elevar o nível de barragens usadas para abastecimento humano ou geração de eletricidade.
Mas nem tudo são flores, alguns cientistas questionam a capacidade de realmente semear a chuva artificialmente, a pergunta que fica é qual a quantidade de chuva que seria precipitada naturalmente sem o estímulo das partículas adicionadas às nuvens, embora alguns locais como Emirados Árabes já conseguiram bons resultados com o método de chuva artificial.
A técnica pode ser uma boa aliada para promover o aumento de precipitação em locais onde há condições favoráveis e formação de nuvens com umidade suficiente, mas essa não pode ser vista como a solução para as secas e falta de chuvas em vários locais. Cada vez mais os cientistas associam os períodos secos e falta de chuvas com as mudanças climáticas e a influência humana no clima.
Referências: